A estrutura defasada da Penitenciária de Florianópolis foi determinante para que a fuga de detentos do sistema prisional catarinense, no dia 8 de setembro, fosse concluída com êxito. Três criminosos escaparam através de um buraco no teto da cela, com auxílio de uma corda artesanal. Sem câmeras no presídio, passaram despercebidos pelas forças de segurança.
A dinâmica exata dos fatos será esclarecida em sindicâncias instauradas pela SAP (Secretaria de Estado da Administração Prisional e Socioeducativa). Até que as investigações sejam concluídas, nenhuma hipótese está descartada — inclusive, a facilitação pela atuação de policiais penais.
A reportagem do ND Mais teve acesso a detalhes das fugas e explica como são os trabalhos para devolver os criminosos ao sistema carcerário.
Estrutura antiga facilitou fugas no Presídio de Florianópolis
Para a fuga de detentos na capital catarinense, um buraco foi aberto no teto da cela e uma corda artesanal foi confeccionada com os próprios uniformes dos detentos. Acredita-se que o furo tenha sido aberto em menos de 24 horas, uma vez que as celas são vistoriadas diariamente e qualquer dano visível à estrutura teria sido percebido pelos agentes penais.
“Os policiais entram na cela, verificam as paredes batendo com algum objeto, observando se há uma coloração diferente, avaliam o teto, levantam colchão, fazem uma revista estrutural naquela cela. O próprio preso também é verificado para saber se está em boas condições de saúde”, explica Carlos Alves, secretário da Administração Prisional.
A Penitenciária da Pedra Grande, no bairro Agronômica, em Florianópolis, é a mais antiga de Santa Catarina. Datada de 1930, possui estrutura defasada e precária, em relação aos presídios inaugurados recentemente. “Hoje a tecnologia é muito superior, o material concreto é muito mais difícil de danificar”, afirma Joana Vicini, secretária adjunta da pasta.
Como a arquitetura da casa prisional é antiga, o teto da cela, que ficava na galeria superior, dava direto para o telhado da Penitenciária. A suspeita é de que a corda tenha sido usada para auxiliar os criminosos a descer pela parede da Penitenciária de Florianópolis. Um quarto detento, que estava na mesma cela, permaneceu no local e será ouvido na investigação.
Participação de policiais penais não é descartada em fuga de detentos
A sindicância instaurada pela SAP também investiga se houve a participação de agentes penitenciários para facilitar a fuga de detentos. O procedimento, que tem prazo máximo de 60 dias para ser concluído, deve ouvir os servidores que atuaram na data das fugas e também os criminosos que foram recapturados.
“Se realmente teve alguma conduta dos servidores, ou se foi apenas uma falha estrutural, tudo será apurado. Se ficar comprovado que houve o dolo do policial, que ele agiu para facilitar, ele responde na esfera administrativa, por, no mínimo improbidade administrativa”, afirma Joana Vicini.
Após a conclusão das investigações, o procedimento é remetido ao Ministério Público, que pode indicar punições também na esfera criminal. Fugir ou auxiliar na fuga de detentos não é crime, mas configura uma infração grave, que impacta na perda de benefícios e retarda a progressão de pena para o preso, e pode gerar a demissão do servidor, se comprovada participação.
Veja quem são os fugitivos da Penitenciária de Florianópolis
Marcelo Rodrigo Benke foi condenado a 44 anos por furto e roubo, e tráfico de drogas. Jackson Cunha foi condenado a 14 anos de prisão por roubo. Ele estava preso há 11 anos e no início de 2025, teria direito a progredir para o regime semiaberto.
Fuga de detentos em Xanxerê e Tijucas
Após essa fuga, outras duas culminaram com a evasão de mais quatro detentos do sistema prisional. Três deles estavam em regime diferenciado, no Presídio Regional de Xanxerê, no Oeste catarinense. O espaço é adequado para receber aqueles que estão em fase de progressão para o regime semiaberto, por isso, tem um nível de segurança inferior em comparação a outras prisões.
“O regime semiaberto é para preparar o detento para reinserção, mas eles não tinham autorização para sair”, lamenta Carlos Alves. Na ocasião, os criminosos forçaram uma grade e conseguiram deixar o presídio.
O quatro fugitivo, que também havia sido beneficiado com a progressão para o regime semiaberto, deveria ter se apresentado no presídio de Tijucas depois do trabalho em uma fábrica, mas não retornou.
“A maioria das fugas acontece nos regimes mais brandos, o semiaberto principalmente. O preso está na situação mais branda, justamente, para provar que tem condições de voltar à sociedade”, entende Joana Vicini.
Desde então, uma força-tarefa das polícias civil, militar e penal já conseguiu recapturar três, dos sete fugitivos. “Quando existe um evento dessa natureza, existe uma mobilização das agências de inteligência da SAP para buscar qualquer tipo de informação que possa subsidiar a recaptura desses presos”, pontua Alves.
No caso mais recente, Idelmar da Silva, que fugiu do presídio de Xanxerê, apresentou-se no fórum da comarca, na quarta-feira (18), e foi reconduzido ao presídio. Idelmar estava preso por furto, artigo 155 do Código Penal, com previsão de progressão para o regime aberto em 11 de dezembro de 2024.
Veja quem os outros fugitivos de Xanxerê e Tijucas
Fernando de Souza da Silva estava preso por tráfico de drogas, com previsão para progressão para o regime aberto em 25 de outubro de 2026. Marlon Vinícius Adams da Silva não retornou ao presídio de Tijucas após o expediente de trabalho em uma fábrica.