Está previsto para a tarde desta terça-feira, a partir das 14h, o depoimento do ex-presidente Jair Bolsonaro no inquérito da Polícia Federal que investiga supostas fraudes nos registros de vacinação dele, de sua filha e de assessores e familiares. Bolsonaro foi alvo de buscas da PF e teve o celular apreendido no dia 3 de maio, ocasião em que seis pessoas foram presas sob suspeita de integrar o esquema de fraudes.
A PF trabalha com duas hipóteses investigativas com relação ao ex-mandatário: a de que ele tenha sido partícipe do crime de inserção de dados falsos no sistema eletrônico do Ministério da Saúde e a de que ele e os demais suspeitos formaram uma associação criminosa com a finalidade de cometer o delito. Se confirmadas as suspeitas, as penas para esses dois crimes, somadas, podem chegar a 15 anos de prisão.
Bolsonaro nega atuação em fraude: ‘Não existe adulteração da minha parte’
Será a terceira oitiva de Bolsonaro desde o início de abril. No dia 5 do mês passado ele foi interrogado pela PF sobre as joias recebidas do governo saudita, e no dia 23, por seu suposto envolvimento com os atos golpistas de 8 de janeiro. Nos dois casos, ele negou ter cometido crimes.
Na noite de ontem, a defesa do ex-presidente concedeu uma entrevista coletiva em Brasília para refutar as suspeitas de irregularidades em pagamentos de despesas da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. Esse é outro caso que está na mira da PF e que, assim como o inquérito das supostas fraudes em registros de vacinação, também envolve o ex-ajudante de ordens Mauro Cid. Os advogados de Bolsonaro evitaram dar detalhes de como será a linha de defesa nesta terça.
Cid é um dos suspeitos presos na operação de 3 de maio. O depoimento dele está previsto para a quinta-feira. Aliados de Bolsonaro têm dito que o ex-ajudante de ordens deverá assumir a culpa pelas fraudes nos cartões de vacinação. A PF sustenta na investigação, contudo, que os indícios colhidos apontam para a participação de Bolsonaro no crime, pois ele teria conhecimento da inserção dos dados falsos e seria um beneficiário dela.
Outro depoimento previsto para hoje é o do coronel Marcelo Costa Câmara, que continuou como assessor do ex-presidente após o fim do mandato. A oitiva dele é importante porque uma troca do e-mail de acesso à conta de Bolsonaro no aplicativo ConecteSUS, usado para emitir o certificado de vacinação, é um dos principais indícios, segundo a PF, de que Cid não agiu sozinho.
Segundo a apuração, o login de Bolsonaro no ConecteSUS estava associado ao e-mail de Cid até o dia 22 de dezembro do ano passado. Naquela data, foi gerado um certificado de vacinação do então mandatário com o registro falso de duas doses da vacina da Pfizer. Minutos depois, o e-mail de login foi alterado para o do coronel Câmara.
A mudança se deu, de acordo com a PF, porque Cid estava prestes a deixar a função de ajudante de ordens de Bolsonaro. A partir de 1º de janeiro deste ano, o ex-presidente passaria a ser assessorado por oito auxiliares, sendo um deles o coronel Câmara, homem de confiança do ex-mandatário que viajaria com ele para a Flórida.
Ainda de acordo com a PF, a alteração cadastral foi feita a partir da conexão de rede do Palácio do Planalto, outro indício de que Bolsonaro sabia da fraude. Essas deverão ser algumas das perguntas que o ex-presidente terá que responder no depoimento. Quando o caso veio à tona, ele disse que não participou de nenhuma fraude.
— Não existe adulteração da minha parte. Não tomei a vacina. Ponto final — declarou no começo do mês.